.O Badmintonista

Um Estudo Sobre Passagem de Desporto Escolar para a Competição da FPB
Há aproximadamente dois anos e meio, na altura em que desempenhava as funções de Coordenador Técnico da Associação Académica de Coimbra, surgiu a oportunidade de trabalhar com um conjunto de atletas provenientes do desporto escolar. A situação que se deparava era a seguinte:
- Os atletas eram do escalão de iniciados.
- Treinavam duas vezes por semana no horário de desporto escolar.
- Iriam treinar uma vez por semana na AAC.
- Tinham uma técnica aceitável, mas pouco evoluída.
Avaliando todos estes factores decidi realizar treinos de técnica base, algo que poderia ser contraditório, visto que os atletas já tinham passado essa fase de desenvolvimento à algum tempo.
Os objectivos deste trabalho seriam:
- Reestruturar completamente tanto o batimento como a deslocação.
- Aprendizagem das ferramentas básicas do jogo.
- Permitir a evolução sustentada dos atletas.
- Focar os objectivos a longo prazo, para que deste modo pudessem evoluir ao longo dos próximos anos tendo uma técnica base bastante evoluída.
Sendo assim o trabalho focou-se em:
- Movimentos base de deslocação (exercícios de optimização biomecânicos).
- Saídas da Base.
- Paragem/Rotação em batimento.
- Deslocação de iniciação.
À parte de algum trabalho de motivação, apenas trabalhavam aspectos que eram de técnica pura.
Os treinos consistiam de 40% de deslocação técnica, 20% de exercícios de aplicação da deslocação, 20% de sequências técnicas e de 20% de trabalho focado na motivação dos atletas (jogos/exercícios lúdicos/etc.).
Ao mesmo tempo foi realizado um trabalho de formação ao treinador responsável pelo núcleo escolar, de modo a que o trabalho realizado na escola fosse concertado com o realizado no clube.
Além da explicação técnica de cada exercício foram também apresentados outros para melhorar aspectos biomecânicos que poderiam ser trabalhados sem supervisão técnica evoluída. O objectivo deste trabalho era dar ao treinador as ferramentas básicas para treino técnico para que os seus conhecimentos técnicos de treino de badminton acompanhassem a evolução dos atletas.
É de notar que este trabalho focou sempre o pormenor, principalmente na explicação dos factores biomecânicos dos movimentos para badminton.
Este trabalho específico foi realizado em cerca de três meses, e nos anos seguintes o trabalho evoluiu para outros aspectos, desta vez com a equipa técnica seguinte (Nuno Santos, José Silva e Diogo Silva) que coordenaram a evolução dos atletas até ao presente.
Todos os atletas, embora continuem apenas a treinar duas vezes no desporto escolar e um dia na AAC, continuam a evoluir de forma progressiva, tanto a nível técnico como de resultados, sendo que todos estão bem classificados nos rankings da FPB, e conseguiram inclusive ganhar alguns torneios.
Estes resultados resultam principalmente do excelente trabalho dos atletas em causa (Marco Simão, Miguel Pinto, Ana Simão e André Farinha), que perceberam que um trabalho sério envolvia alguns sacrifícios, e do treinador da escola (Álvaro Pinto) que soube adaptar os ensinamentos transmitidos pela equipa técnica da AAC para a realidade de treino, no Núcleo de Badminton escolar.
Deveremos reflectir que, ao contrário do que muitas vezes se afirma, com poucas condições mas com bons conhecimentos será possível realizar bom trabalho e que mais que melhorar as condições logísticas da modalidade é fundamental melhorar os conhecimentos técnicos dos agentes da modalidade. O conhecimento é um item de fácil e barata transmissão e não tem prazo, nem limite de vida.
É de realçar que um bom trabalho técnico a longo prazo quase sempre apresenta resultados positivos para a totalidade dos atletas.
Este processo poderá ser facilmente aplicado noutros locais, apenas será necessário que os núcleos escolares estejam receptivos para este trabalho, e que haja disponibilidade da “elite” dos treinadores nacionais e/ou comissão técnica da FPB para a formação contínua dos treinadores escolares.
Délio Gonçalves
WEBadminton.net