
O professor Nuno Santos é natural de Sé Nova, Coimbra, recentemente licenciado em Ciências do Desporto e Educação Física, pela Universidade de Coimbra estando agora a leccionar nas Escolas Básicas do Tovim e do Dianteiro em Coimbra. Iniciou a sua actividade no badminton como atleta federado, na Associação Académica Coimbra em 1989/1990 onde se manteve até à época 2004/2005 tendo alcançado quatro títulos de Campeão Nacional nos escalões de formação participando com regularidade nos trabalhos das Selecções Nacionais. Actualmente, representa o Clube Sports da Madeira e marca presença assídua nos trabalhos das Selecções Nacionais Seniores. Como treinador, iniciou a sua actividade em 2000/2001 na Associação Académica de Coimbra, clube onde actualmente ainda acumula esta actividade com a de Coordenador Técnico. Também foi técnico da Associação de Badminton de Coimbra, entre 2003 a 2005, onde desenvolveu trabalho na promoção e divulgação do Badminton em diversos núcleos de desporto escolar da região de Coimbra.
- Em Portugal não existe competitividade que permita aos jovens jogadores evoluírem, pelo que teriam que sair do país, para poderem crescer desportivamente e assim jogarem, ao mais alto nível. Esta situação, quando poderá ser contrariada?
Não acho que seja necessário para os atletas mais jovens saírem do pais para poderem competir a um nível superior. Penso que a organização do nosso sistema competitivo permite grandes discrepâncias de valor entre os atletas jovens o que promove uma competitividade baixa. Uma remodelação no sistema competitivo seria um passo importante para aumentar a competitividade. Na minha opinião, os atletas deveriam passar por várias fases de selecção antes de chegar aos torneios nacionais. Para isso era necessário ter um sistema competitivo dividido por zonas, onde os melhores jogadores de cada zona se qualificariam para uma fase nacional. Desta forma, teríamos a certeza que apenas os melhores jogavam a nível nacional, aumentando a competitividade e a qualidade dos torneios.
- Na generalidade o jogador português treina muito pouco, pelo que os mais diversos componentes do treino, ficam longe de serem devidamente desenvolvidos. Como ultrapassar esta situação?
Penso que um jogador de formação português tem um volume de treino, três vezes por semana, em média, o que é adequado às exigências do treino de desenvolvimento. Nos estágios de selecção luso-dinamarquês, dos escalões não seniores ou nas Copas Ibéricas, verificamos que o nível técnico dos nossos jogadores neste escalão não é inferior aos dos nossos adversários. Tudo muda quando os jogadores chegam ao escalão de juvenil e júnior e quando a exigência, face ao treino aumenta. É nesta altura que se verifica uma inversão dos resultados portugueses face aos atletas estrangeiros. Nesta fase, é essencial que os treinadores desenvolvam um trabalho de mentalização dos atletas para os convencer que para continuarem a desenvolver as suas capacidades, têm que aumentar progressivamente a sua carga de treino. A elevada carga horária escolar, a falta de horários e espaços para os clubes, a incapacidade dos treinadores para motivar os atletas são factores que, recorrentemente, justificam esta situação. No entanto, penso que é a falta de estímulos para motivar os atletas a desenvolverem as capacidades, o factor essencial da nossa realidade. Nestas idades, é necessário introduzir um aumento da competição, quer em quantidade, quer em qualidade. Aumentar o número de competições de equipas e competições internacionais, poderá ajudar a ultrapassar esta situação.
- Se conseguíssemos uma regular competição internacional, justificar-se-ia um Centro de Treinos de Alto Rendimento, com espaços devidamente apetrechados e exclusivo?
Mesmo sem uma regular competição internacional, este Centro se justificava. Penso que a criação de um Centro de Alto Rendimento seria essencial para reunir os jogadores de qualidade para que treinassem juntos regularmente, para as exigências de treino e o nível qualitativo dos jogadores serem cada vez maior. Mas esta medida teria de ser bem ponderada, pois deve ter em conta que o Badminton não é uma modalidade profissional e que a maioria dos jogadores, a serem incluídos nesse Centro, têm actividades paralelas para conciliar.
- Sendo o badminton uma modalidade sem protagonismo em Portugal e também tecnicamente muito difícil, porquê o aparecimento como atleta e agora também como treinador, havendo tantas outras modalidades com outra dimensão e visibilidade?
A minha escolha pelo Badminton está muito relacionada com o facto do meu irmão estar envolvido na modalidade. Quando era miúdo, seguia o meu irmão para quase todo o lado, pelo que teve uma influência muito grande. Ele proporcionou-me uma educação motora muito abrangente, em vários desportos que me desenvolveu bastante as minhas capacidades coordenativas, o que me facilitou a aprendizagem motora de diversos gestos técnicos. Sinceramente, e sem modéstias, penso que seria bom em qualquer modalidade em que me envolvesse. Devido a esta influência, a escolha foi óbvia, uma vez que o meu irmão era Campeão Nacional de Honras e quis seguir-lhe as pisadas. O surgimento como treinador foi um desenrolar natural da minha envolvência na modalidade a ajudar os meus colegas menos fortes. Sempre tive fascínio pela elaboração de projectos, na sua implementação e concretização e o papel de treinador é essencialmente isso. É a minha forma de desafiar e desenvolver as minhas capacidades. Inicialmente, envolvi-me nesta actividade de modo informal, apenas sustentado na experiência que tinha de treino como atleta. Quando entrei para o curso de Ciências do Desporto e Educação Física, desenvolvi os meus conhecimentos sobre os princípios de treino, pedagogia e psicologia e integrei-os no treino de Badminton. Apesar de haver outras modalidades com maior visibilidade, é nesta que continuo a tirar grande gozo quer a jogar, quer a treinar.
- Comparativamente com países europeus de grande dimensão competitiva, Portugal com um número tão reduzido de jogadores federados, qual seria o caminho a seguir para conseguirmos um maior equilíbrio competitivo em termos internacional?
Penso que é necessário um maior intercâmbio competitivo com outros países nas selecções não seniores, de forma a proporcionar maior experiência internacional aos nossos atletas mais jovens, principalmente nos escalões de especialização, os Sub 17 e Sub-19. Para além disto, o papel da FPB na alta competição não se deve resumir à organização de estágios. A FPB deve ter um papel mais interventivo na planificação de competições e no treino dos atletas da selecção sénior, através da pessoa do Seleccionador Nacional junto dos treinadores. Uma vez que é a FPB que investe nos atletas, deve ter um maior controlo sobre a sua actividade.
- No entanto temos conhecimento que no âmbito escolar um elevado número de jovens tem aderido à prática da modalidade. O que seria necessário fazer para se atingir número elevado de jogadores federados?
O primeiro passo é aumentar o número de atletas praticantes, apostando fortemente no desporto escolar, pois é na escola que está toda a matéria-prima do desporto.
O segundo passa seria criar estruturas que façam o enquadramento do desporto escolar, com o desporto federado. Os torneios de divulgação tiveram um saldo positivo este ano, mas as acções neste sentido não podem ficar por aqui. É necessário continuar a motivar os professores de desporto escolar a participar em eventos federados e proporcionar condições para que os núcleos de desporto escolar que apresentem trabalho nesse sentido, sejam recompensados. Neste sentido, o derradeiro passo é organizar a competição nacional por zonas, com menos momentos nacionais, de modo a permitir reduzir os custos dos clubes /escolas nas deslocações a torneios. Seria também interessante criar selecções regionais /zonais e implementar uma competição de equipas entre estas selecções.
- Concorda com as parcerias que deveriam ser efectuadas entre as Coordenações Educativas / DE e a FPB para que a modalidade aumentasse substancialmente o número de praticantes?
Sem duvida. Não estou por dentro da regulamentação das Coordenações Educativas, mas penso que as FPB podia tentar com que os professores responsáveis por núcleos federados fossem recompensados pelas respectivas Coordenações Educativas. Acho que seria bom que a FPB conseguisse que os Torneios de Divulgação contassem para a classificação do Desporto Escolar de forma a motivar as escolas a participarem mais nestes torneios.
Penso, também, que seria proveitoso para a modalidade se a FPB conseguisse creditar as acções de formação das associações regionais ou cursos de treinador da FPB nas CEs. Isto proporcionaria um aumento quantitativo e qualitativo de professores envolvidos nos núcleos de desporto escolar.
- Os Torneios Divulgação, que a FPB pôs a funcionar esta época poderão ser no futuro um trampolim, para um melhor intercâmbio com o Desporto Escolar. Qual a importância deste tipo de competições?
Penso que este ano foi muito animador neste sentido. Ao deixar de fora os melhores atletas federados, este tipo de competição permite que o nível competitivo seja mais homogéneo, que se reflecte no aumento da motivação dos atletas menos cotados e que se mantenham na modalidade o tempo suficiente para melhorarem. Há, no entanto, situações que têm que ser repensadas, nomeadamente a ausência deste tipo de competição em provas de pares e os prémios a atribuir aos melhores atletas destes torneios. O estágio realizado pela FPB para premiar os vencedores dos Torneios de Divulgação é injusto para atletas federados que, por um lado, são demasiado fortes para participar nos Torneios de Divulgação e que, por outro lado, ainda não são suficientes fortes, para serem convocados para estágios de selecção nacional. De qualquer forma, estes torneios podem ser a base da organização de uma competição por zonas, que possibilitará que mais atletas provenientes do Desporto Escolar participem
- O caminho iniciado pelos Torneios de Divulgação da FPB deverá ser reforçado, pois tem sido importante para o desenvolvimento da modalidade. Qual a opinião sobre esta situação?
Como já tinha referido, concordo que os Torneios de Divulgação foram uma excelente iniciativa da FPB na dinamização do desporto juvenil. Penso que o próximo ano deve servir para consolidar esta estrutura e dentro de dois anos, deve evoluir para melhorar o enquadramento do desporto escolar com o desporto federado. Os ajustamentos a serem feitos devem ter em conta a situação da altura, mas sempre com o objectivo de aumentar o número de atletas praticantes e a melhoria técnica dos treinadores.
- E qual a sua proposta para melhorar essa imagem?
No final de cada ano, fazer um estágio em cada zona, com os atletas mais bem classificados da respectiva zona e com os respectivos técnicos, de forma a melhorar a formação. Estes atletas formariam selecções zonais que competiriam entre si numa data a determinar.
Deveriam ser atribuídos prémios em material, principalmente volantes, para as escolas e clubes que obtenham melhores resultados de forma a recompensar as escolas que melhor trabalham na formação de atletas.
É importante pensar na possível inclusão de provas de Pares nestes torneios.
- As Coordenações Educativas deviam ou não premiar os Núcleos que funcionam bem e punir aqueles que dão uma má imagem do Desporto Escolar?
Acho que sim. Tal como nos ensina o desporto, o mérito deve sempre ser reconhecido.
- Os atritos anteriores entre os responsáveis do badminton escolar e federado impediu que a relação entre estas duas estruturas fosse pouco produtiva para a modalidade. Na sua opinião será possível melhorar esta relação?
Ambas as estruturas têm interesse em estabelecer uma ligação entre elas. Por um lado, interessa à estrutura federativa, aproveitar a quantidade de atletas da estrutura escolar. Por outro lado, interessa à estrutura escolar, aproveitar a qualidade técnica que é desenvolvida pela estrutura federativa. Em vez de ambas andarem de costas voltadas, cada uma vangloriando-se dos seus feitos em relação à outra, deviam ultrapassar as suas divergências para conseguirem projectar o Badminton como uma modalidade de sucesso. Para isto, todas as estruturas são necessárias, mas também se deve incluir aqui a estrutura universitária.
- Poderá haver diálogo para que a competição escolar seja verdadeira e justa?
Claro que sim. E urge essa necessidade sobre o risco de a competição escolar perder o interesse. Os casos que têm ocorrido nas ultimas fases finais do DesportoEscolar, são uma autêntica injustiça e que põem em causa todo o esforço dos professores que verdadeiramente se envolvem. Continuam a existir CE's que não desenvolvem qualquer trabalho no Desporto Escolar e que, de formas dúbias e estranhas aproveitam os atletas do Desporto Federado para participarem nas fases finais, garantindo resultados fáceis. Falo concretamente do caso das CE´s do Algarve, em que desconheço sequer que tenha havido competição escolar e que apresentou na final escolar um grupo de atletas federados de alto nível. Penso que esta situação é desigual para todos os professores das escolas em que tiveram de formar jogadores e passar por todas as fases de apuramento e também para os outros alunos que se sujeitam a competir com atletas de um nível completamente diferente. Penso que é desmotivante para professores e atletas.
Assim como ocorre nos Torneios de Divulgação, deve haver restrição dos atletas federados nos torneios de desporto escolar. E a organização dos apuramentos para as diversas fases da competição deve ser regulamentada para que não haja desigualdades nos diversos pontos do pais. Mas cabe à Coordenação Nacional do Desporto Escolar estar atenta a estas situações e tentar resolvê-las.
- Para conseguirmos desenvolver uma eficaz formação e cultura desportiva e assim ultrapassarmos a imagem de um país de “fenómenos desportivos” e criarmos um desporto organizado, para a grande maioria da população juvenil, o que teremos que fazer?
Tenho uma ideia um pouco idealista e utópica, pois não creio que se esteja a caminhar neste sentido. A minha opinião é a que a regulamentação de todo o desporto deveria estar sobre a alçada do Ministério da Educação tal como nos países que obtêm resultados desportivos mais significativos, EUA, China, Rússia, entre outros que agora surgem. Toda a estrutura desportiva deveria estar baseada na escola, desde o 1º Ciclo e acompanhar a vida escolar dos alunos até ao ensino superior. O Desporto Escolar deveria estar incluído no currículo escolar. O aluno, a partir do 2º ciclo, optaria por um determinado desporto e teria formação exclusiva nesse desporto, para além da disciplina de educação física e no qual seria avaliado. Isto incutiria nos alunos uma educação e uma cultura desportiva mais séria, criaria hábitos de prática desportiva e promoveria o cumprimento de regras. A formação desportiva estaria ao encargo das escolas e os clubes fariam automaticamente o filtro dos que realmente querem uma competição mais séria.
- Os clubes de grande dimensão popular no nosso país, como é o caso do Sport Lisboa e Benfica, que tem forte poder de “marketing” se criassem secções de badminton, seria uma mais valia importante para a modalidade?
Sem dúvida. Clubes com uma forte projecção mediática são sempre um meio para uma maior divulgação da modalidade, principalmente em arranjar espaços nos meios de comunicação social. Quantos mais clubes “grandes” estiverem envolvidos, mais a imagem da modalidade é divulgada, e mais popular e massificado se torna.
- Em Portugal não existe competitividade que permita aos jovens jogadores evoluírem, pelo que teriam que sair do país, para poderem crescer desportivamente e assim jogarem, ao mais alto nível. Esta situação, quando poderá ser contrariada?
Não acho que seja necessário para os atletas mais jovens saírem do pais para poderem competir a um nível superior. Penso que a organização do nosso sistema competitivo permite grandes discrepâncias de valor entre os atletas jovens o que promove uma competitividade baixa. Uma remodelação no sistema competitivo seria um passo importante para aumentar a competitividade. Na minha opinião, os atletas deveriam passar por várias fases de selecção antes de chegar aos torneios nacionais. Para isso era necessário ter um sistema competitivo dividido por zonas, onde os melhores jogadores de cada zona se qualificariam para uma fase nacional. Desta forma, teríamos a certeza que apenas os melhores jogavam a nível nacional, aumentando a competitividade e a qualidade dos torneios.
- Na generalidade o jogador português treina muito pouco, pelo que os mais diversos componentes do treino, ficam longe de serem devidamente desenvolvidos. Como ultrapassar esta situação?
Penso que um jogador de formação português tem um volume de treino, três vezes por semana, em média, o que é adequado às exigências do treino de desenvolvimento. Nos estágios de selecção luso-dinamarquês, dos escalões não seniores ou nas Copas Ibéricas, verificamos que o nível técnico dos nossos jogadores neste escalão não é inferior aos dos nossos adversários. Tudo muda quando os jogadores chegam ao escalão de juvenil e júnior e quando a exigência, face ao treino aumenta. É nesta altura que se verifica uma inversão dos resultados portugueses face aos atletas estrangeiros. Nesta fase, é essencial que os treinadores desenvolvam um trabalho de mentalização dos atletas para os convencer que para continuarem a desenvolver as suas capacidades, têm que aumentar progressivamente a sua carga de treino. A elevada carga horária escolar, a falta de horários e espaços para os clubes, a incapacidade dos treinadores para motivar os atletas são factores que, recorrentemente, justificam esta situação. No entanto, penso que é a falta de estímulos para motivar os atletas a desenvolverem as capacidades, o factor essencial da nossa realidade. Nestas idades, é necessário introduzir um aumento da competição, quer em quantidade, quer em qualidade. Aumentar o número de competições de equipas e competições internacionais, poderá ajudar a ultrapassar esta situação.
- Se conseguíssemos uma regular competição internacional, justificar-se-ia um Centro de Treinos de Alto Rendimento, com espaços devidamente apetrechados e exclusivo?
Mesmo sem uma regular competição internacional, este Centro se justificava. Penso que a criação de um Centro de Alto Rendimento seria essencial para reunir os jogadores de qualidade para que treinassem juntos regularmente, para as exigências de treino e o nível qualitativo dos jogadores serem cada vez maior. Mas esta medida teria de ser bem ponderada, pois deve ter em conta que o Badminton não é uma modalidade profissional e que a maioria dos jogadores, a serem incluídos nesse Centro, têm actividades paralelas para conciliar.
- Sendo o badminton uma modalidade sem protagonismo em Portugal e também tecnicamente muito difícil, porquê o aparecimento como atleta e agora também como treinador, havendo tantas outras modalidades com outra dimensão e visibilidade?
A minha escolha pelo Badminton está muito relacionada com o facto do meu irmão estar envolvido na modalidade. Quando era miúdo, seguia o meu irmão para quase todo o lado, pelo que teve uma influência muito grande. Ele proporcionou-me uma educação motora muito abrangente, em vários desportos que me desenvolveu bastante as minhas capacidades coordenativas, o que me facilitou a aprendizagem motora de diversos gestos técnicos. Sinceramente, e sem modéstias, penso que seria bom em qualquer modalidade em que me envolvesse. Devido a esta influência, a escolha foi óbvia, uma vez que o meu irmão era Campeão Nacional de Honras e quis seguir-lhe as pisadas. O surgimento como treinador foi um desenrolar natural da minha envolvência na modalidade a ajudar os meus colegas menos fortes. Sempre tive fascínio pela elaboração de projectos, na sua implementação e concretização e o papel de treinador é essencialmente isso. É a minha forma de desafiar e desenvolver as minhas capacidades. Inicialmente, envolvi-me nesta actividade de modo informal, apenas sustentado na experiência que tinha de treino como atleta. Quando entrei para o curso de Ciências do Desporto e Educação Física, desenvolvi os meus conhecimentos sobre os princípios de treino, pedagogia e psicologia e integrei-os no treino de Badminton. Apesar de haver outras modalidades com maior visibilidade, é nesta que continuo a tirar grande gozo quer a jogar, quer a treinar.
- Comparativamente com países europeus de grande dimensão competitiva, Portugal com um número tão reduzido de jogadores federados, qual seria o caminho a seguir para conseguirmos um maior equilíbrio competitivo em termos internacional?
Penso que é necessário um maior intercâmbio competitivo com outros países nas selecções não seniores, de forma a proporcionar maior experiência internacional aos nossos atletas mais jovens, principalmente nos escalões de especialização, os Sub 17 e Sub-19. Para além disto, o papel da FPB na alta competição não se deve resumir à organização de estágios. A FPB deve ter um papel mais interventivo na planificação de competições e no treino dos atletas da selecção sénior, através da pessoa do Seleccionador Nacional junto dos treinadores. Uma vez que é a FPB que investe nos atletas, deve ter um maior controlo sobre a sua actividade.
- No entanto temos conhecimento que no âmbito escolar um elevado número de jovens tem aderido à prática da modalidade. O que seria necessário fazer para se atingir número elevado de jogadores federados?
O primeiro passo é aumentar o número de atletas praticantes, apostando fortemente no desporto escolar, pois é na escola que está toda a matéria-prima do desporto.
O segundo passa seria criar estruturas que façam o enquadramento do desporto escolar, com o desporto federado. Os torneios de divulgação tiveram um saldo positivo este ano, mas as acções neste sentido não podem ficar por aqui. É necessário continuar a motivar os professores de desporto escolar a participar em eventos federados e proporcionar condições para que os núcleos de desporto escolar que apresentem trabalho nesse sentido, sejam recompensados. Neste sentido, o derradeiro passo é organizar a competição nacional por zonas, com menos momentos nacionais, de modo a permitir reduzir os custos dos clubes /escolas nas deslocações a torneios. Seria também interessante criar selecções regionais /zonais e implementar uma competição de equipas entre estas selecções.
- Concorda com as parcerias que deveriam ser efectuadas entre as Coordenações Educativas / DE e a FPB para que a modalidade aumentasse substancialmente o número de praticantes?
Sem duvida. Não estou por dentro da regulamentação das Coordenações Educativas, mas penso que as FPB podia tentar com que os professores responsáveis por núcleos federados fossem recompensados pelas respectivas Coordenações Educativas. Acho que seria bom que a FPB conseguisse que os Torneios de Divulgação contassem para a classificação do Desporto Escolar de forma a motivar as escolas a participarem mais nestes torneios.
Penso, também, que seria proveitoso para a modalidade se a FPB conseguisse creditar as acções de formação das associações regionais ou cursos de treinador da FPB nas CEs. Isto proporcionaria um aumento quantitativo e qualitativo de professores envolvidos nos núcleos de desporto escolar.
- Os Torneios Divulgação, que a FPB pôs a funcionar esta época poderão ser no futuro um trampolim, para um melhor intercâmbio com o Desporto Escolar. Qual a importância deste tipo de competições?
Penso que este ano foi muito animador neste sentido. Ao deixar de fora os melhores atletas federados, este tipo de competição permite que o nível competitivo seja mais homogéneo, que se reflecte no aumento da motivação dos atletas menos cotados e que se mantenham na modalidade o tempo suficiente para melhorarem. Há, no entanto, situações que têm que ser repensadas, nomeadamente a ausência deste tipo de competição em provas de pares e os prémios a atribuir aos melhores atletas destes torneios. O estágio realizado pela FPB para premiar os vencedores dos Torneios de Divulgação é injusto para atletas federados que, por um lado, são demasiado fortes para participar nos Torneios de Divulgação e que, por outro lado, ainda não são suficientes fortes, para serem convocados para estágios de selecção nacional. De qualquer forma, estes torneios podem ser a base da organização de uma competição por zonas, que possibilitará que mais atletas provenientes do Desporto Escolar participem
- O caminho iniciado pelos Torneios de Divulgação da FPB deverá ser reforçado, pois tem sido importante para o desenvolvimento da modalidade. Qual a opinião sobre esta situação?
Como já tinha referido, concordo que os Torneios de Divulgação foram uma excelente iniciativa da FPB na dinamização do desporto juvenil. Penso que o próximo ano deve servir para consolidar esta estrutura e dentro de dois anos, deve evoluir para melhorar o enquadramento do desporto escolar com o desporto federado. Os ajustamentos a serem feitos devem ter em conta a situação da altura, mas sempre com o objectivo de aumentar o número de atletas praticantes e a melhoria técnica dos treinadores.
- E qual a sua proposta para melhorar essa imagem?
No final de cada ano, fazer um estágio em cada zona, com os atletas mais bem classificados da respectiva zona e com os respectivos técnicos, de forma a melhorar a formação. Estes atletas formariam selecções zonais que competiriam entre si numa data a determinar.
Deveriam ser atribuídos prémios em material, principalmente volantes, para as escolas e clubes que obtenham melhores resultados de forma a recompensar as escolas que melhor trabalham na formação de atletas.
É importante pensar na possível inclusão de provas de Pares nestes torneios.
- As Coordenações Educativas deviam ou não premiar os Núcleos que funcionam bem e punir aqueles que dão uma má imagem do Desporto Escolar?
Acho que sim. Tal como nos ensina o desporto, o mérito deve sempre ser reconhecido.
- Os atritos anteriores entre os responsáveis do badminton escolar e federado impediu que a relação entre estas duas estruturas fosse pouco produtiva para a modalidade. Na sua opinião será possível melhorar esta relação?
Ambas as estruturas têm interesse em estabelecer uma ligação entre elas. Por um lado, interessa à estrutura federativa, aproveitar a quantidade de atletas da estrutura escolar. Por outro lado, interessa à estrutura escolar, aproveitar a qualidade técnica que é desenvolvida pela estrutura federativa. Em vez de ambas andarem de costas voltadas, cada uma vangloriando-se dos seus feitos em relação à outra, deviam ultrapassar as suas divergências para conseguirem projectar o Badminton como uma modalidade de sucesso. Para isto, todas as estruturas são necessárias, mas também se deve incluir aqui a estrutura universitária.
- Poderá haver diálogo para que a competição escolar seja verdadeira e justa?
Claro que sim. E urge essa necessidade sobre o risco de a competição escolar perder o interesse. Os casos que têm ocorrido nas ultimas fases finais do DesportoEscolar, são uma autêntica injustiça e que põem em causa todo o esforço dos professores que verdadeiramente se envolvem. Continuam a existir CE's que não desenvolvem qualquer trabalho no Desporto Escolar e que, de formas dúbias e estranhas aproveitam os atletas do Desporto Federado para participarem nas fases finais, garantindo resultados fáceis. Falo concretamente do caso das CE´s do Algarve, em que desconheço sequer que tenha havido competição escolar e que apresentou na final escolar um grupo de atletas federados de alto nível. Penso que esta situação é desigual para todos os professores das escolas em que tiveram de formar jogadores e passar por todas as fases de apuramento e também para os outros alunos que se sujeitam a competir com atletas de um nível completamente diferente. Penso que é desmotivante para professores e atletas.
Assim como ocorre nos Torneios de Divulgação, deve haver restrição dos atletas federados nos torneios de desporto escolar. E a organização dos apuramentos para as diversas fases da competição deve ser regulamentada para que não haja desigualdades nos diversos pontos do pais. Mas cabe à Coordenação Nacional do Desporto Escolar estar atenta a estas situações e tentar resolvê-las.
- Para conseguirmos desenvolver uma eficaz formação e cultura desportiva e assim ultrapassarmos a imagem de um país de “fenómenos desportivos” e criarmos um desporto organizado, para a grande maioria da população juvenil, o que teremos que fazer?
Tenho uma ideia um pouco idealista e utópica, pois não creio que se esteja a caminhar neste sentido. A minha opinião é a que a regulamentação de todo o desporto deveria estar sobre a alçada do Ministério da Educação tal como nos países que obtêm resultados desportivos mais significativos, EUA, China, Rússia, entre outros que agora surgem. Toda a estrutura desportiva deveria estar baseada na escola, desde o 1º Ciclo e acompanhar a vida escolar dos alunos até ao ensino superior. O Desporto Escolar deveria estar incluído no currículo escolar. O aluno, a partir do 2º ciclo, optaria por um determinado desporto e teria formação exclusiva nesse desporto, para além da disciplina de educação física e no qual seria avaliado. Isto incutiria nos alunos uma educação e uma cultura desportiva mais séria, criaria hábitos de prática desportiva e promoveria o cumprimento de regras. A formação desportiva estaria ao encargo das escolas e os clubes fariam automaticamente o filtro dos que realmente querem uma competição mais séria.
- Os clubes de grande dimensão popular no nosso país, como é o caso do Sport Lisboa e Benfica, que tem forte poder de “marketing” se criassem secções de badminton, seria uma mais valia importante para a modalidade?
Sem dúvida. Clubes com uma forte projecção mediática são sempre um meio para uma maior divulgação da modalidade, principalmente em arranjar espaços nos meios de comunicação social. Quantos mais clubes “grandes” estiverem envolvidos, mais a imagem da modalidade é divulgada, e mais popular e massificado se torna.
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