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22 outubro, 2008








Continuamos a apresentar o estudo científico elaborado, pelo professor Ricardo Fernandes, que contém 150 páginas, distribuídas por VI Capítulos e denominado de “A Dinâmica Decisional no Badminton / O Acoplamento Serviço – Recepção nos Atletas de Singulares Homens de Elite Mundial”, a publicar, pelo “O Badmintonista” às quartas-feiras.
Capítulo II – Revisão da Literatura
3.4. Principais Críticas à Abordagem Cognitivista
A perspectiva cognitivista dá relevância aos fenómenos inerentes às operações mentais realizadas com vista à produção de um comportamento. Ou seja, o comportamento é acima de tudo e principalmente, o reflexo do processamento central.
No qual o sucesso da acção depende fundamentalmente da qualidade das representações armazenadas e das ordens enviadas pelo sistema nervoso central (Godinho, 1995).
De acordo com Schmidt e Lee (1999), um comando para iniciar uma acção, tal como um estímulo externo ou intenção para agir auto-gerada, inicia o processo com identificação do estímulo, seguida da selecção da resposta e da programação da resposta, chegando finalmente à evocação dos comandos de movimento para os músculos. As decisões conscientes são tomadas nos níveis mais altos do sistema e os níveis mais baixos da hierarquia executam o programa.
Segundo (Schmidt, 1975; Schmidt e Lee, 1999), citado por Araújo (2006), a teoria do esquema é baseada na ideia de que os movimentos lentos são realizados tendo por base informação de retorno (circuito fechado), enquanto os movimentos mais rápidos são programados à partida (circuito aberto), sendo implementados sem recorrer à informação de retorno. De acordo com Araújo (2006), há vários constrangimentos da tarefa no planeamento do movimento tais como: complexidade do movimento, as exigências de exactidão, ou constrangimentos informacionais tais como: as relações entre sinais do contexto. Assim estas linhas de investigação atribuem um papel menos importante aos constrangimentos da tarefa (analisados apenas enquanto “incerteza” e os do ambiente (bastante mais negligenciados), (Ripoll, 1991; Tenenbaum & Bar-Eli, 1993).
Para se conseguir explicar a aprendizagem do passe, utilizando o modelo proposto por Schmidt (1982), todo o processo de aprendizagem passa por uma perspectiva cognitivista, onde os processos mentais, se intercalam entre os estímulos e a resposta, respeitando um modelo definido à partida, ou seja, o atleta funciona como um sistema de tratamento de informação onde elabora representações e utiliza o conhecimento de uma forma computacional. Nesta linha de pensamento, o indivíduo é considerado como um sistema de tratamento de informação que elabora as representações, manipula e utiliza os conhecimentos segundo um modelo computorizado: estímulo-resposta. Obrigatoriamente por três momentos distintos, onde, no primeiro momento o estímulo é identificado pelo atleta, desencadeando de seguida uma selecção, de forma a preparar a programação da resposta, traduzindo-se numa resposta motora. Estes momentos podem ser qualificados individualmente, onde dependeram de um conjunto de variáveis.
Provavelmente a característica mais relevante da abordagem cognitivista é a hiper-valorização dos processos mentais. Segundo esta, uma técnica correcta já possui em si as características de base para que os factores decisivos do bom desempenho sejam atingidos. Ao se considerar a existência de programas motores (sequência de comandos que especificam um dado movimento), a ideia de gestos tecnicamente correctos surge como a consubstanciação desses programas em termos físicos. Deste modo, só após a automatização desses gestos os atletas poderiam focar a sua atenção nos factores pertinentes da própria situação proposta. Por outras palavras, primeiro está a execução correcta do gesto, depois o aprender a usar essa execução em situações de maior complexidade. No entanto, inúmeras evidências empíricas e experimentais têm colocado em causa os alicerces básicos desta perspectiva teórica e expostas inúmeras limitações da mesma. A grande variedade de execuções técnicas entre os jogadores de alto nível é uma evidência cabal das limitações da teoria cognitivista.
Segundo esta perspectiva, a existência de modelos e a sua imitação facilitaria a prática em situações complexas e reais. Seria então de prever que os melhores praticantes possuíssem movimentos relativamente semelhantes e considerados tecnicamente correctos. No entanto, por exemplo, no ténis, tal não se verifica. Apesar de muitos praticantes terem sido sujeitos a um ensino através de modelos, os melhores jogadores executam movimentos bastante diferentes entre si e distintos de qualquer modelo de execução (Groppel, 1992).
Caso a técnica ou o gesto desportivo fosse um valor em si mesmo, os melhores jogadores possuiriam uma boa técnica. Assim, caso os praticantes imitassem a direita do Sampras ou o serviço do Ivanisevic, deveriam possuir uma boa base para desenvolver programas motores bastante adequados à modalidade. No entanto, embora eles sejam frequentemente imitados, raros são os casos de sucesso desportivo entre praticantes com execuções técnicas semelhantes às dos peritos.
Investigações recentes têm suportado as evidências de que a nossa capacidade de adaptação é muito maior perante tarefas de exigências variadas do que o que as perspectivas tradicionais assumiam (Handford et al., 1997). Uma das premissas centrais a esta abordagem foi a de que a informação de retorno aumentada era absolutamente necessária para que a aprendizagem ocorresse (Schmidt, 1975). No entanto, vários estudos indicam que, para além de a informação de retorno aumentada poder não ser necessária, pode ser mesmo prejudicial (Swinnen, 1996; Magill, 1994, 1998).
Esta abordagem baseia-se em grande medida nesta assunção entendida por vários autores como reducionista. Para cada erro existe uma correcção. A perspectiva dos defensores da teoria dos sistemas de acção é a de que deve existir uma abordagem global do movimento. A rejeição de que os movimentos complexos são construídos a partir de blocos de construção rígidos, conduz à rejeição de que a aprendizagem consiste apenas na aprendizagem desses blocos e na sua ligação (Vereijken & Bongaardt, 1999).
Por exemplo, Kelso (1995) afirma a este respeito: para nós, a noção de todo não é apenas maior que, mas diferente da soma das dinâmicas das partes, devido às interacções não dinâmicas entre as partes ou entre as partes e o envolvimento.
Embora estas perspectivas tivessem sido testadas experimentalmente em tarefas pouco complexas e durante um curtíssimo espaço de tempo são a base para a forma de intervir em habilidades motoras complexas, que se realizam em contextos dinâmicos e com objectivos de longo prazo (por exemplo, remates no futebol, direitas no ténis, passes no basquetebol). Não é pois de estranhar as limitações das perspectivas tradicionais de aprendizagem quando aplicadas na prática.
Segundo Araújo (2006), muito do conhecimento existente sobre a tomada de decisão nas ciências do desporto e da motricidade humana surge das análises abrangentes do modelo do desempenho.

Na próxima 4ª feira, dia 29 de Outubro será publicado o texto referente ao ponto 3.5 do Capítulo II – Teoria dos Sistemas Dinâmicos

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