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17 dezembro, 2008








Continuamos a apresentar o estudo científico elaborado, pelo professor Ricardo Fernandes, que contém 150 páginas, distribuídas por VI Capítulos e denominado de “A Dinâmica Decisional no Badminton / O Acoplamento Serviço – Recepção nos Atletas de Singulares Homens de Elite Mundial”, a publicar, pelo “O Badmintonista” às quartas-feiras.
Capítulo II – Revisão da Literatura
3.7.2. A Tomada de Decisão no Desporto

Para Warren (2006) o praticante possui um corpo físico e está embutido num ambiente físico. O comportamento é guiado por informação contingente acerca do estado do sistema praticante-ambiente. As relações de controlo são específicas da tarefa, fazendo corresponder quantidades informacionais relevantes a variáveis de acção relevantes.
O comportamento emerge da interacção entre o praticante e o ambiente, sob constrangimentos físicos, informacionais e da tarefa (Warren, 2006). È um facto que os atletas deverão ser encorajados a compreender que uma participação efectiva no jogo é contingente com a tomada de decisões mais apropriadas, e que os treinadores se encontram-se numa óptima posição para facilitar este conceito (Araújo, 2006).
Ainda o mesmo autor afirma, a confiança nas suas acções é um dos aspectos que caracteriza as diferenças dos entre os peritos dos novatos no desporto.
Os primeiros estudos sobre a tomada de decisão no desporto de uma forma geral foram realizados em contextos laboratoriais, nos quais se reproduziram situações pouco próximas da realidade desportiva, mas que mesmo assim, reclamaram processos cognitivos relevantes para o desporto. Desde esses estudos iniciais até aos dias de hoje, numerosos investigadores no desporto “enfrentam” o desafio de decifrar a tomada de decisão no desporto através de procedimentos variados, mas que têm como principal preocupação comum, o problema de como denominar uma tomada de decisão ecológica na investigação. Assim, os paradigmas de evocação e reconhecimento de padrões de informação, recolhidos dos estudos sobre peritos de Xadrez (Chase e Simon, 1973; Allard e Burnett, 1985), convivem com os estudos sobre a detecção de sinais baseados na teoria de Tanner e Swets (Allard e Starkes, 1980), os estudos dos padrões visuais (Goulet et al., 1989), o estudo da utilização de sinais perceptivos relevantes (Abernethy, 1989) ou do conhecimento dos atletas em relação à tomada de decisão (French e Thomas, 1987).
Segundo Araújo (2006) é fundamental compreender a especificidade (contexto) de cada desporto, como é que se treina para lidar com a incerteza e com a variabilidade das situações, em vez de se treinar a mecanização. Ninguém sabe antecipadamente qual o resultado, nem o desenvolvimento de uma competição. Tomar decisões é permitir mudanças ao longo de um curso de interacções com o contexto, visando um objectivo.
Estas mudanças na relação com o contexto podem ter origem predominantemente no indivíduo (por exemplo, a força muscular) ou no envolvimento (por exemplo, inclinação do solo), mas resulta sempre da interacção entre o indivíduo e o contexto. A acção táctica é sinónima de comportamento decisional, ou seja, uma sequência interdependente de decisões e de acções que devem ser tomadas em tempo útil, num contexto em mudança e para determinado fim. Especificamente no desporto, podemos conceber a acção intencionalmente desencadeada com o intuito de ganhar ou manter vantagem sobre os adversários. Desta forma, o praticante detecta na situação as informações que revelam possibilidades de acção direccionada para o objectivo (por exemplo, fintar para ganhar espaço de modo a lançar ao cesto no basquetebol). A acção
táctica emerge do resultado da exploração das possibilidades de acção (affordances cf. Gibson, 1979), os quais são constrangidas pelas regras, pelo tempo disponível, pela perícia dos praticantes, pelo estado emocional e da tarefa, etc. Porém a acção táctica, apesar de emergir da interacção entre diversos constrangimentos não é fruto do acaso, os desportistas ao longo da sua evolução, vão progressivamente ficando sensibilizados para usar as informações relevantes, as quais aumentam a probabilidade de resolver o problema posto pela situação. Sempre que se usa informação relevante (mesmo que isso aconteça, numa primeira instância, por acaso, embora normalmente surja pela orientação do treinador) a probabilidade de voltar a usá-la novamente aumenta, ou seja, a possibilidade de emergir uma solução favorável ao atleta tende a aumentar com o treino. Estar sensibilizado para utilizar uma dada informação, quer dizer que o atleta detecta, cada vez melhor as informações que lhe permitem agir com sucesso em cada situação. Na realidade, observamos que na competição as acções nunca são iguais nos jogos, por mais semelhanças que possam existir com as acções anteriores. Este facto, indica que embora a estratégia possa ser planeada antecipadamente, a resolução das situações da competição é sempre única. Este aspecto é ainda mais realçado quando constatamos que os desportistas previsíveis (que sabem antecipadamente o que fazer) não são os que constituem mais perigo. Pelo contrário, os desportistas criativos (que criam situações no momento) são os que mais problemas causam aos adversários (Araújo, 2005).
O conhecimento partilhado por muitos treinadores em relação ao problema da teoria estar separada da prática, não é infelizmente desenvolvido da mesma forma na literatura científica existente. Constatamos numa grande parte da literatura científica, que o praticante deve saber praticamente tudo o que vai fazer, programando-se para dar a resposta-tipo treinada para determinados “estímulos” (situações). Digamos que o praticante espera que o estímulo apareça, identifica-o, compara-o com situações vividas anteriormente, programa a resposta e implementa-a no seu sistema músculo-esquelético, como se existisse duas explicações, uma teórica (que segue os passos do processamento sequencial de informação) e outra prática (onde a solução emerge se o atleta estiver afinado à informação relevante), para o comportamento decisional dos desportistas.
Para Newell (1986), a tomada de decisão dos jogadores durante os jogos pode ser influenciada pelos constrangimentos do praticante, do envolvimento e da tarefa.
O mesmo autor refere, que com a coordenação e o controlo (sob a forma de acoplamentos informação-movimento funcionais) a interacção dos constrangimentos são a chave parao praticante. Esta realidade tem-se direccionado no sentido de identificar e evidenciar a interactividade dos recursos dos jogadores com o quadro polifacetado de constrangimentos do jogo, (Janeira, 1994).
De acordo com Araújo (2005), os constrangimentos não são influências negativas no comportamento, mas sim a forma como os componentes do sistema estão ligados, formando um tipo específico de organização.
De facto algumas modalidades, pela sua complexidade estrutural a nível do jogo e pela grande quantidade de variáveis que afectam o seu rendimento, não é fácil estabelecer dados conclusivos relativamente às circunstâncias e elementos que se desenvolvem durante as diferentes fases do jogo, no sentido de determinarem o êxito ou não das acções. (Cabello et al., 2001; Sampaio, 2000).
Para Araújo (2006), as exigências de carácter preceptivas nos desportos podem variar consideravelmente, oscilando entre tarefas cujo componente preceptivo é praticamente nulo a tarefas para cuja realização o indivíduo deve ser capaz de integrar em padrões significativos uma enorme quantidade de informação cuja origem é o meio ambiente mais imediato.
Segundo Ruíz (2005), para ser-se excelente é fundamental o atleta possuir um sentimento de satisfação e de confiança nas próprias possibilidades, e que outros autores denominam auto-eficácia, confiança desportiva ou competência percebida. Os desportistas necessitam de dados que lhes indiquem o que é que está a acontecer, um propósito que os guie, os meios adequados e a confiança necessária para conseguirem o dito propósito (Ruiz, 2005). As decisões são influenciadas pelo estado anímico e afectivo do desportista, os seus medos, temores, confiança nas suas possibilidades, apetência, fadiga, pressão do ambiente ou da avaliação subjectiva que realiza do risco que levam as ditas decisões, (Ruiz, 2005). Neste sentido, um jogador terá mais hipóteses de alcançar o sucesso, quanto mais conseguir controlar ou manipular os factores que influenciam e condicionam negativamente as suas decisões durante os jogos.
Os desportos de preferência decisional são aqueles que de uma forma individual ou colectiva se deve decidir muito em pouco tempo, tal é o caso dos desportos colectivos (Basquetebol, Andebol, Voleibol, Rugby, Hóquei etc.), e dos desportos de oposição (Ténis, Esgrima, Badminton, etc.) ou combate (Judo, Karaté, Boxe, etc.). Os desportos de carácter decisional são por natureza complexos, dinâmicos e incertos, daí que o estudo da tomada de decisão tenha a necessidade de procedimentos múltiplos de investigação (Ruíz, 2005).
Na próxima 4ª feira, dia 24 de Dezembro será publicado o texto referente ao ponto 3.7.3 do Capítulo II – O Contexto da Tomada de Decisão

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