Saiu um artigo da
maior importância para os pais de jovens desportistas e não só. O artigo
publicado pela Associação Americana de Pediatria pretende ser um documento
orientador para os pediatras e cuidadores de crianças que praticam desporto.
Não sendo eu pediatra (porque sou cirurgião pediátrico), sou pai de um rapaz
que adora desporto. Mais, acho que nós pais (e Mães) atentos procuramos que os
nossos filhos façam muito desporto como parte integrante de uma vida saudável.
Mas quantos desportos devem as crianças praticar? Devem especializar-se num só
desporto ou diversificar? Quantas horas por semana? Estas e outras perguntas
são respondidas neste artigo que revê tudo o que a ciência conseguiu estudar e
provar até ao momento.
Indo por partes. Os
benefícios do desporto infantil estão estudados e são consensuais: melhora as
capacidades motoras das crianças, facilita a sua socialização, promove a
autoestima, o trabalho de equipa e a capacidade de liderança, é um divertimento
saudável. Mas depois há um lado negro do desporto, em particular do desporto de
competição (isto são dados dos EUA):
-1- 70% das crianças que frequentam
desporto ‘organizado’ (desporto em clubes) desistem por volta dos 13 anos
- 2-
pelo menos 50% das lesões desportivas em crianças e adolescentes são por
excesso de esforço (overuse). E para quê? (Continuamos com dados dos EUA.)
Apenas 1% dos atletas que competem no high-school level recebem bolsas. E
apenas 0,03-5% deles chegarão a um nível profissional. De facto, por muito que
nos entusiasme imaginar que os nosso filhos serão os melhores naquele desporto,
a probabilidade de serem atletas profissionais é muito muito pequena.
Nós (pais) temos
tendência a projetar as nossas frustrações nas expectativas que criamos para o
futuro dos nossos filhos. «Já viste como gosta da bola? O puto há-de ser o
próximo Ronaldo.» «A minha princesa vai ser a bailarina que eu nunca consegui
ser.» «No que depender de mim, dar-lhe-ei todas as condições para ser o
melhor.» «E desde cedo, porque eu só não aprendi, porque já fui tarde…» É aqui
que a porca torce o rabo, porque:
- 1- o desporto infantil não pode servir para
apaziguar as frustrações dos pais,
- 2- o problema não está em começar tarde um
desporto. Este é uma ideia errada que muitos pais têm.
A estatística
americana (que julgo poder aplicar-se à nossa realidade) mostra que a
especialização num só desporto demasiado cedo na vida da criança leva a uma
taxa maior de desistência da carreira desportiva. Para além do mais, existem
outros riscos associados ao desporto de competição em idade precoce: isolamento
social, lesões desportivas, ansiedade, depressão e até abuso físico, emocional
e sexual por adultos envolvidos nas atividades do clube. É mais importante para
a criança entre os 0 e os 12 anos experimentar muitos desportos. Diferentes
desportos representam diferentes movimentos, diferentes competências físicas,
psicológicas e sociais, diferentes ambientes, etc.
Em estudos
comparativos (agora já com amostras europeias), provou-se que a diversificação
precoce (ou seja, variar muito os desportos que a criança) e a especialização
tardia (ou seja, centrar num desporto somente mais tarde na adolescência)
relaciona-se com um maior sucesso desportivo em competições de elite. Com
excepção de alguns desportos, como a ginástica e a patinagem artística, onde o
pico de performance acontece antes da maturação física, todos os outros
desportos devem ser praticados em especialização/exclusividade após a
adolescência.
Posto isto, o artigo
resume algumas informações que os pediatras e cuidadores devem ter em mente
quando discutem a vida desportiva das crianças:
Primeiro, o foco
principal do desporto é a diversão e aprendizagem de competências físicas que
nos serviram para toda a vida. Quanto ao número de horas/semana que a criança
deve praticar desporto organizado, uma regra que se pode aplicar é: número de
horas/semana deverá ser sempre menor que a sua idade em anos (para um máximo de
16 anos).
Segundo, a
participação em múltiplas actividades desportivas até à puberdade, diminui o
número de lesões, stress e burnout dos jovens desportistas. A especialização
tardia (fim da adolescência) relaciona-se com maior sucesso desportivo. A
diversificação precoce e a especialização tardia aumenta a probabilidade de
envolvimento desportivo por toda a vida, bem-estar físico futuro e
possivelmente mais participação em desporto de elite.
Terceiro, se um jovem
atleta decide especializar-se num só desporto, é importante:
1.Discutir com o jovem
quais os seus objectivos pessoais e distingui-los dos nossos (pais) e dos dos
treinadores.
2.Estar atento ao
ambiente de treino e às práticas, para saber se estão de acordo com as melhores
práticas para aquele desporto em específico.
3.Ter pelo menos 3
meses de pausa/ano, dividido em períodos de 1 mês. Esta pausa refere-se ao
desporto que o jovem pratica, mas pode/deve ser substituídos por outras
actividades físicas que mantenham a boa-forma do atleta.
4.1-2 dias por semana
de folga do seu desporto pode diminuir o número de lesões.
4.Monitorizar o estado
físico, psicológico e nutricional dos jovens atletas.
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