- Nascido e residente na cidade de Aveiro, em 9 de Abril de 1977, Jorge Pitarma já tem 16 anos de badminton, primeiro como atleta da Associação de Estudantes da Universidade de Aveiro, onde iniciou a actividade, continuando no Clube do Povo de Esgueira, Casa do Benfica em Aveiro e Casa do Povo de Esgueira, seguindo-se a muito difícil actividade como treinador. Defina estas duas situações de vivência na modalidade? Já iniciei a pratica do badminton um pouco tarde com 14 anos o que infelizmente não me deu muitos anos de competição, como não sénior, pelo tenho pena de não ter conhecido a modalidade mais cedo, no entanto fui a tempo de conhecer todas as fases de aprendizagem para me possibilitar praticar badminton com qualidade e desfrutar de todo o prazer do jogo. Como treinador as coisas aconteceram bem mais rápidas, a saída do prof. Fernando Gouveia do clube onde estava deixou os mais jovens sem treinador o que fez com que eu fosse quase empurrado para o cargo, por ser o mais velho do grupo e por ter aprendido esses anos todos com o professor, as pessoas na altura acharam que eu estava preparado e uma vez que como jogador o badminton era apenas visto como diversão, aceitei. Nos primeiros tempos foi difícil pois passei a treinar aqueles que 2 meses antes eram meus colegas, depois porque não tinha experiência nenhuma, tive de crescer um pouco mais rápido que o previsto, mas felizmente tinha tido um bom mestre e os dirigentes na altura também me deram todo o apoio necessário, pelo as coisas ficaram bem mais fáceis.
- Chegar o mais longe possível, percorrendo um longo caminho trabalhando muito para se conseguirem determinados objectivos. Já foram alcançados alguns desses objectivos? Como jogador todos os objectivos foram cumpridos, tirando o facto de nunca ter representado a selecção nacional, mas por ter ganho alguns torneios, posicionando-me entre os primeiros do ranking e ter atingido finais em campeonatos nacionais, posso dizer que para o talento que eu tinha cheguei onde era esperado, como treinador de clube também acho que embora curta a minha carreira é positiva, tive vários jogadores envolvidos nos trabalhos dos diversos escalões das selecções nacionais, tendo alguns representado a Selecção Nacional em Campeonatos da Europa, com a obtenção de excelentes resultados colectivos e por isso sou um treinador satisfeito com o que consegui atingir, faltando talvez trabalhar num projecto mais arrojado como treinar jogadores de alta competição, por terem outros tipos de objectivos, como a qualificação olímpica, por exemplo.
- Em Portugal não existe competitividade que permita aos jovens jogadores evoluírem, pelo que teriam que sair do país, para poderem crescer desportivamente e assim jogarem, ao mais alto nível. Esta situação, quando poderá ser contrariada? Principalmente quando o número de praticantes aumentar, mas esse é um problema vivido por todas as modalidades, não sendo exclusivo do badminton, mas é verdade que os nosso melhores jogadores têm de sair do país para conseguirem outra competitividade que lhes permita evoluir, esse é um processo que irá demorar alguns anos e onde terão de ser feitas algumas mudanças ao nível organizativo para que seja possível, que os nossos melhores jogadores encontrem também em Portugal condições para isso.
- Na generalidade o jogador português treina muito pouco, pelo que os mais diversos componentes do treino, ficam longe de serem devidamente desenvolvidos. Em países com outra qualidade competitiva e cultura desportiva, como é? A verdade é que a mentalidade do país terá que ser bem melhorada e uma mudança quase radical, na maioria dos países os jovens tem aulas entre as 8.00 e as 15.30 h e isso significa que depois da escola, podem organizar a sua vida havendo espaço para tudo, deporto, estudo e descanso. Em Portugal, os nossos jovens jogadores começam as aulas às 8.30 h e em muitos dias acabam a sua actividade escolar por volta das 18.30 h, para quem tem de estudar e preparar-se para o dia seguinte não tem muito tempo livre, o que lhes retira algum espaço para treinar e ainda por alguns clubes apenas usufruírem de espaços para realizarem os seus treinos a horas inconvenientes e para quem tem de se levantar ao outro dia muito cedo para voltar á escola, por vezes não é motivador, para alem do cansaço natural de quem vai treinar depois de um dia preenchido. Essa é uma mudança essencial.
- Se conseguíssemos uma regular competição internacional, justificar-se-ia um Centro de Treinos de Alto Rendimento, com espaços devidamente apetrechados e exclusivo? Penso que é muito importante ter um centro de treinos de alto rendimento onde se possibilite juntar todos os jogadores de qualidade, porque se treinarem juntos diariamente poderiam atingir um nível competitivo que lhes permita sonhar em atingir os objectivos que o talento deles merece, o que acontece neste momento é que os nossos jogadores mais talentosos estão espalhados por vários pontos do país e por isso tem de participar em estágios fora do país ou até mesmo convidar jogadores estrangeiros para virem treinar com eles, mas mais uma vez a mentalidade portuguesa teria de ser mudada porque isso iria fazer com que os jovens jogadores tivessem de se deslocar, para viverem, estudarem e treinarem nesse centro de treinos, longe das suas famílias algo a que não estamos muito habituados em Portugal mas que é normal na maioria dos outros países.
- Sendo o badminton uma modalidade sem protagonismo em Portugal e também tecnicamente muito difícil, porquê o aparecimento como atleta e depois como treinador, havendo tantas outras modalidades com outra dimensão e visibilidade? Eu jogava futebol no Beira-Mar, mas devido a um período que tive de estar afastado e como tinha dois colegas que tinham começado a jogar badminton e porque eu sempre gostei de praticar desporto decidi experimentar, na altura nem sabia o que era isso do badminton, mas lembro-me que depois do primeiro treino no CIFOP e orientado pelo prof. Fernando Gouveia, saí do treino e fui logo comprar a minha primeira raqueta de iniciação e nunca mais quis outro desporto, mais tarde com os treinos e competições tive a certeza que foi a atitude mais correcta, pelo que não estou nada arrependido,
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Sem curriculum como treinador como foi a imediata subida a técnico de selecções nacionais? Sorte, penso que para tudo na vida é preciso ter sorte, é verdade que não tinha nenhum curriculum, a FPB tinha como treinadores o prof. António Crespo e o prof. Jorge Cação e decidiram alargar o numero de treinadores para quatro, na altura foi o Sr. Carlos Silva e eu, no meu caso penso que queriam um treinador jovem para que começasse a aprender a trabalhar com as selecções para um dia mais tarde dar continuidade ao seu trabalho, fui escolhido e agradeço a todos que estiveram envolvidos a oportunidade que me deram, mas só eles podem responder o porquê de ter sido eu.
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Comparativamente com países europeus de grande dimensão competitiva, Portugal com um número tão reduzido de jogadores federados, qual o posicionamento internacional do país? Para a nossa dimensão ter jogadores a ocuparem o top 60 mundial, ter cinco jogadores na corrida pela qualificação olímpica, ter um dos melhores Sub-19 da Europa é um motivo de orgulho, outros países bem maiores e mais ricos que nós não podem dizer o mesmo até porque alguns deles são ser representados por jogadores naturalizados, o que significa que com muito sacrifício, trabalho e dedicação de jogadores, técnicos e dirigentes também a espaços podemos estar entre os melhores.
- No entanto temos conhecimento que no âmbito escolar um elevado número de jovens tem aderido à prática da modalidade. O que seria necessário fazer para se atingir número elevado de jogadores federados? Em primeiro lugar espaços em horários que tenham em conta o seu estatuto de estudantes, eu sei que muitos jovens praticam badminton na escola, depois diálogo entre as duas entidades DE / FPB para haver uma “ponte” entre a escola e o desporto federado, no entanto tem havido alguns progressos nesse sentido como os Torneios de Divulgação que juntam jogadores do desporto escolar e outros do desporto federado, mas mais pode ser feito de forma a provocar-se mais intercâmbios de praticantes, professores e treinadores.
Os Torneios Divulgação, que a FPB pôs a funcionar esta época e que são uma cópia melhorada do que anteriormente já tinha acontecido positivamente com a ARBA. Qual a importância deste tipo de competições? Os Torneios Divulgação são bastante importantes, como referi anteriormente, porque permite uma maior aproximação ao desporto escolar, e desse forma faz com que haja um patamar entre a competição regional e a nacional e permite ainda a que os jogadores ordenados nos “Rankings Nacionais” abaixo dos mais qualificados e que por causa disso tenham nesse tipo de torneios oportunidade de fazerem mais jogos ao seu nível competitivo, são torneios realizados num só dia o que ajuda nos muitos custos a que os clubes são sujeitos, compensando ainda a falta de competição regional que em algumas associações não existe, e são mais um passo importante na remodelação dos nossos quadros competitivos
- Nas mais diversas deslocações com as nossas selecções nacionais, o que mais o impressionou sob o ponto de vista de organização e cultura desportiva, em países que trabalham o desporto ao mais alto nível? Felizmente trabalhar com a selecção nacional tem-me dado a conhecer muitos países e felizmente quase todos os torneios têm uma organização muito boa, á semelhança do que fazemos em Portugal, mas em alguns foi-me dada a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a orgânica do desporto desses países, e aí a Tailândia talvez por ser um país muito grande e populoso foi o que mais me impressionou pela positiva, por serem muito organizados, pela exigência competitiva que têm devido ao elevado numero de jogadores que possuem, tive a oportunidade de ver como trabalham com miúdos de 6 anos na ginástica e ver a disciplina e aplicação dessas crianças com aquela idade foi algo que ficará para sempre na memória, simplesmente impressionante.
- Naturalmente que existem diferenças da década de noventa, onde foi jogador e da actual, agora como treinador? Muitas mesmo, a todos os níveis, o badminton mudou imenso principalmente no que diz respeito á velocidade e claro a todas as alterações ao nível do treino técnico, táctico e físico que isso provocou, também as novas tecnologias deram uma ajuda nessa evolução, e o estudo constante á nossa modalidade faz com que hoje se trabalhe de uma forma mais profissional até mesmo nalguns caso recorrendo a ajuda de profissionais de outras áreas (nutricionistas, psicólogos, etc.) tentando tirar dessa forma o máximo de todas as capacidades dos jogadores. Isso não significa que não se trabalhasse bem antes, muito pelo contrário muitos dos grandes jogadores portugueses obtiveram grandes resultados nessa década.
- Com tão poucos jogadores que possibilidades temos de melhorar as nossas participações internacionais? É uma questão que resume muito do que foi dito anteriormente, primeiro temos de criar condições para que haja mais jogadores a praticar regularmente a modalidade, havendo mais jogadores a qualidade aumentará, qualidade essa que nos vais obrigar a criar mais condições no que respeita a instalações, que por sua vez ao serem criadas melhores condições para trabalharmos, logo tiraremos partido de todo o talento dos nossos jovens e isso fará com que nos possamos apresentar nos torneios internacionais ao melhor nível, no fundo é como subir uma escadaria, degrau a degrau, mas que por várias razões não está a ser fácil de pôr em prática.
- As Associações Regionais têm vindo a diminuir. Qual a causa para esta situação? Os trabalhos das associações não tem sido fácil, as verbas quase que não existem por isso o trabalho fica limitado e o facto de sermos pouco elementos na modalidade por vezes faz com que a mesma pessoa tenha vários cargos no clube e na associação o que provoca uma grande falta de motivação para trabalhar, pelo que aos poucos vão desaparecendo e falo por experiência própria pois já a vivi. Aquelas associações ou clubes que têm uma estrutura profissional estão a trabalhar bem na tentativa de criar as condições para que os seus clubes e jogadores possam trabalhar cada vez mais e melhor, na divulgação e recrutamento de mais jovens para a modalidade, as outras não tendo essas características, tentam fazer o melhor que podem á custa de muito sacrifício e de muitas horas em prol da modalidade umas vezes com mais outras vezes com menos sucesso mas sempre tentan,do que a modalidade cresça e desenvolva na sua área de acção. É um trabalho difícil, que reconhecemos já deu mais frutos.
- Ao longo de 16 nos que convive com o badminton, quais foram os momentos mais marcantes e afectivos porque já passou? A medalha de bronze na Filandia Cup, que deu acesso ao Campeonato da Europa Sub-19, na Áustria, foi o resultado mais marcante por varias razões, foi a primeira vez que uma selecção jovem consegui subir ao Grupo A, depois porque nessa selecção fazia parte a Alice Silva que na altura era minha jogadora na Casa do Povo de Esgueira, o que me encheu de muito orgulho, e tudo o que se passou durante a competição, pelo espírito que a equipa teve, também o facto de conseguir trabalhar com os melhores jogadores portugueses e que alguns deles considero como heróis, pela oportunidade que me foi dada para trabalhar com o seleccionador nacional, o dinamarquês Jacob Heising e outros treinadores, pelo relacionamento com directores da federação, tudo isso contribui para que estes 16 anos tenham sido marcantes e que me ajudaram a crescer não só como jogador/treinador mas principalmente como pessoa.
- E quais as figuras, que muito têm em Portugal trabalhado pela modalidade? Muita gente trabalha em prol do badminton, seria difícil para mim estar a dizer um a um, mas numa análise pessoal, o prof. Fernando Gouveia que foi o meu primeiro treinador e com quem aprendi muito em todas as áreas do treino e foi ele que me pegou o “vicio”, Jorge Oliveira que foi quem me acompanhou durante alguns anos com quem aprendi muito e que ainda hoje se mantém muito motivado para que a modalidade continue a evoluir no Clube de Albergaria, e como disse na questão anterior todos os jogadores que treinei, outros que foram meus colegas, treinadores e dirigentes com quem contactei, todos eles foram e ainda são muito importantes para mim e muitos deles também para o badminton português.
- Descreva factos curiosos observadas nas mais diversas competições internacionais com a participação de atletas portugueses dos escalões não seniores? Todas as saídas com as selecções trazem-nos situações engraçadas normalmente pelo choque que a cultura de outros países provoca nos nossos jogadores (alimentação, língua e outros hábitos), espero que esse facto os ajude a ter mais conhecimentos e que lhes possam ser úteis quando forem mais velhos, no fundo trabalhar com jovens também tem esse aliciante, a nossa função não se esgota apenas na formação desportiva dos jogadores, estamos também a formar homens e mulheres para o futuro.
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