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17 setembro, 2008






Continuamos a apresentar o estudo científico elaborado, pelo professor Ricardo Fernandes, que contém 150 páginas, distribuídas por VI Capítulos e denominado de “A Dinâmica Decisional no Badminton / O Acoplamento Serviço – Recepção nos Atletas de Singulares Homens de Elite Mundial”, a publicar, pelo “O Badmintonista” às quartas-feiras.

CAPÍTULO II - REVISÃO DA LITERATURA
3. Psicologia Ecológica do Desporto
A perspectiva ecológica vem confrontar a perspectiva cognitivista que tem tido dificuldade em explicar a criatividade e a adaptabilidade humana. Por outro lado, coloca-se o problema de espaço de memória para armazenar toda a informação de cadasituação já praticada, bem como o tempo durante uma acção desportiva, detectar, identificar, associar, comparar, seleccionar, programar e executar uma resposta. Este modelo cognitivista do desempenho humano que é baseado na famosa metáfora do computador e do processamento de informação (e.g., Schmidt e Lee, 1999), que no entanto, de forma alguma conseguem explicar as acções tácticas de Lin Dan ou Taufick Hidayata no Badminton, Roger Federer no Ténis ou Tim Boll no Ténis de Mesa que em períodos de tempo muito reduzidos conseguem executar acções eficazes de grande qualidade, contrariando, os pressupostos defendidos pelos cognitivistas. A abordagem ecológica como a informação contextual e não apenas a que está na memória constrange as acções do praticante durante o treino e a competição. As teorias dos sistemas dinâmicos, enquadradas pela abordagem ecológica, dizem-nos que acção e cognição, revelam propriedades emergentes de auto-organização, não se resumindo apenas a ser padrões de memória activáveis quando necessário. Neste sentido, é possível explicar a imensa variabilidade com que os peritos num dado desporto resolvem as situações com que se deparam. Cada perito tem a sua forma de actuar, que ao longos dos anos foram se aperfeiçoando e trazendo novas formas de actuar (Araújo, 2005).
A abordagem ecológica da acção seguindo a linha Gibsoniana assume um pressuposto de que existe uma relação mútua e recíproca entre sujeito e envolvimento.
James Gibson (1979) apresenta o conceito de percepção directa, em que existe uma função determinante da informação percepcionada directamente do ambiente (i.e. sem recurso a estruturas intermédias, como o processamento central que compara a informação que chega pelos mecanismos sensoriais com a informação armazenada em memória) para a coordenação e controlo motor. A percepção e a acção estabelecem uma relação directa e cíclica visto que são actividades mutuamente interdependentes, não podendo ser estudadas separadamente. Tal como Gibson (1979, p.223) refere ““We must perceive in order to move, but we must also move in order to perceive.”. Dito por outras palavras, toda a informação necessária para a acção está disponível no envolvimento e percepcionada directamente pelo atleta, tendo este com a sua acção uma influência directa na alteração da informação presente no envolvimento. Ou seja percepcionamos a informação presente no contexto para decidirmos e agirmos, e com a nossa acção alteramos a informação do contexto para continuarmos a decidir e a agir e assim sucessivamente. Desta forma torna-se complicado definir uma hierarquia entre a decisão e acção, qual delas está primeiro? Uma acção pode ser definida como uma interacção funcional entre o indivíduo e o seu envolvimento com um determinado propósito, enquanto, que uma decisão mais do que ser dependente da capacidade do indivíduo está condicionada pelo que o contexto permite fazer, sendo a decisão vista como um processo emergente é uma estratégia activa da procura de soluções caracterizada por sequências espaço-temporais na relação entre sujeito e envolvimento (Schmidt & Lee, 1999; Araújo, 2005). Neste sentido, todas as nossas decisões, só farão sentido quando estão perfeitamente integradas do contexto do jogo, por exemplo, a decisão de um jogador de Badminton alterar no último momento o tipo de batimento e zona de colocação do mesmo, só acontecerá porque percepciona que o adversário dificilmente irá chegar em boas condições para responder com sucesso, ou seja; visualiza ou percepciona a posição do adversário agindo com a finalidade de percepcionar o que o jogador adversário irá fazer na sua acção, e assim sucessivamente.
A informação que permite cada jogador decidir e agir está disponível no envolvimento, resultando da interacção entre jogador e contexto. Como tal os problemas que se colocam a cada jogador emergem da sua interacção com o contexto sendo, em muitos aspectos, imprevisíveis. Neste sentido, não é aconselhável determinar à partida qual o gesto técnico que os jogadores realizam. A informação de retorno fornecida pelo treinador (i.e. feedback pedagógico) é igualmente informação disponível no envolvimento, porém apenas fará sentido como um reforço de quais os objectivos de tarefa alcançados e a alcançar, respeitando a variabilidade da acção de cada jogador para alcançar esses objectivos. Desta forma o feedback pedagógico será passível de afinar os acoplamentos de percepção-acção, o atleta percepciona para agir no sentido de alcançar os objectivos de tarefa e age para percepcionar se está no caminho certo para os alcançar. Partindo deste pressuposto sugerimos que existe uma grande dependência entre o que será a técnica adequada e as situações reais de jogo, verificando-se que determinados modelos de execução poderão estar desajustados para certas situações que o jogo impõe, visto que os desempenhos com sucesso não se caracterizam por movimentos utilizados de forma estereotipada, mas sim pela sua adequação física e temporal a cada situação, por exemplo, um jogador que toma a decisão de fazer uma finta ou simulação de batimento ao adversário, só continuará com essa acção caso se aperceba que o jogador adversário continuar a ter muitas dificuldades em responder em boas condições, nessa situação, é natural que a utilização das finta ou simulações continuem a serem usadas com sucesso, caso contrário, poderá perder a jogada. Mas a informação presente no envolvimento é detectada de acordo com os constrangimentos que limitam o espaço onde o atleta percepciona e age, limites esses que condicionam a especificidade da acção a realizar.

Na próxima 4ª feira, dia 24 de Setembro será publicado o texto referente ao ponto 3.1 do Capítulo II – A Percepção Directa

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