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29 outubro, 2008








Continuamos a apresentar o estudo científico elaborado, pelo professor Ricardo Fernandes, que contém 150 páginas, distribuídas por VI Capítulos e denominado de “A Dinâmica Decisional no Badminton / O Acoplamento Serviço – Recepção nos Atletas de Singulares Homens de Elite Mundial”, a publicar, pelo “O Badmintonista” às quartas-feiras.
Capítulo II – Revisão da Literatura
3.5 – Teoria dos Sistemas Dinâmicos
A abordagem dos sistemas dinâmicos é o ramo da matemática que estuda sistemas de números (caos, bifurcações): discreto e contínuo, linear e não-linear, teorias físicas de formação espontânea de padrões, transições de fase, auto-organização, complexidade (micro-macro), sistemas determinados por leis mais simples embora o comportamento momentâneo pareça aleatório, o padrão geral é ordenado por sistemas sensíveis às condições iniciais (Araújo, 2007).
Um sistema dinâmico na Natureza é qualquer sistema que evolui e muda ao longo do tempo. Cada praticante pode ser visto como um sistema de movimento altamente integrado, que muda constantemente ao longo do tempo. Os sistemas dinâmicos do movimento humano podem, então, apresentar diferentes estados de organização devido ao crescimento, desenvolvimento e envelhecimento e como resultado do treino e da prática.
Para os especialistas do comportamento motor, a implicação radical destes argumentos é que as percepções, as memórias, as intenções, e também as acções podem ser melhor concebidas como padrões macroscópicos, emergentes, auto-organizados formados pela interacção dos componentes do sistema neuro-músculo-esquelético. Estes componentes do sistema podem ser neurónios do cérebro “disparando” em conjunto para formar memórias ou planos, grupos de músculos que abrangem várias articulações formando padrões de coordenação, ou praticantes fazendo passes entre si para marcar um cesto ou um golo.
Segundo Araújo (2005) parece que os sistemas dinâmicos de movimento são capazes de explorar os constrangimentos que os rodeiam de forma a permitir que emirjam padrões funcionais de comportamento em contextos específicos. Os sistemas dinâmicos têm a tendência para funcionar em padrões de organização estáveis, devido ao processo de auto-organização. Este processo não é aleatório ou completamente “cego” do qual pode resultar um padrão. Este tipo de comportamento não seria funcional na natureza, uma vez que os sistemas de movimento evoluíram por se adaptarem ao seu envolvimento. De facto, a natureza é muito eficiente e o processo de auto-organização fornece a variabilidade do sistema que é de algum modo previsível (Araújo, 2005).
A ecologia da competição é determinante para a compreensão do desempenho eficaz dos indivíduos em acção (Brunswik, 1943; Gibson, 1979). Este contexto que é a competição, ao contrário da explicação típica das teorias do processamento de informação, implica que os atletas atendam à sua complexidade e dinâmica.
Os desportistas não estão perante um conjunto de estímulos conhecidos à partida, mas sim a influenciar uma situação com inúmeras variáveis, umas conhecidas e outras não, que mudam ao longo do tempo. As informações estão no contexto, e os desportistas distinguem-se precisamente por agir para encontrarem as informações que lhes permitem atingir o objectivo nesse contexto. Esses contextos são caracterizados pela variabilidade, implicam obrigatoriamente que o atleta seja activo, que acompanhe a dinâmica do que se passa à sua volta, em vez de passivamente esperar estímulos para dar resposta.
O atleta tem de detectar e usar a informação que está na competição e que está sempre a evoluir. É esta interacção praticante-competição que permite resolver problemas. Assim sendo, as situações não podem ser previamente resolvidas na “cabeça” do praticante, nem são resolvidas exclusivamente por este.
Pelo contrário, o atleta, mesmo com planos prévios de acção, explora e alcança aquilo que o contexto permite (Araújo, 2005). Na verdade, existe um vasto conjunto de factores em interacção que influenciam o comportamento dos desportistas. Estes factores moldam, ou melhor, constrangem as acções resultantes. Constranger as acções indica que há um espaço de acção, dentro do qual todas as soluções são possíveis, mas não são possíveis soluções que surjam fora desse espaço de acção. Por exemplo, são literalmente possíveis, infinitas jogadas dentro de um campo de Badminton, mas todas estas jogadas são necessariamente constrangidas, entre outras coisas, pelas dimensões do campo. Um outro exemplo é o de um jogador de Badminton poder chegar a todos os volantes que passem numa determinada área à sua volta. Se ele não chegar mais longe é porque estáconstrangido pela sua velocidade e pelo tamanho dos seus membros. Entretanto, o tamanho dos seus membros não determina que ele chegue aos volantes que passem na sua área.
A causa principal das acções dos desportistas é sem dúvida resultante da intencionalidade dos indivíduos (Reed, 1996). Contudo, embora a causa principal que leva a que a competição aconteça seja a intenção dos indivíduos, esta não “programa” o que vai acontecer nem quando vai acontecer. A intenção dos indivíduos orienta-os “apenas” para interagirem no contexto visando determinados objectivos. O modo como esses objectivos são atingidos é constrangido pela interacção local, ou seja, é um processo emergente.
Portanto, é neste sentido que defendemos que a tomada de decisão dinâmica, ou melhor, a acção táctica, é um processo emergente. De forma geral, estes são os fundamentos da tomada de decisão. O atleta age para percepcionar a informação do contexto que lhe permite agir com eficácia e significado, ou seja, que lhe permite atingir o objectivo.
Neste processo de interacção com o contexto emergem as decisões (por exemplo, seleccionar informações, cursos de acção, sub-objectivos, etc.) dependentes do contexto local.
Só conhecendo os fundamentos do processo eficaz da tomada de decisão em competição é possível que deliberada e eficientemente se melhore este processo
Na próxima 4ª feira, dia 5 de Novembro será publicado o texto referente ao ponto 3.6 do Capítulo II – Integração dos conceitos da psicologia ecológica com os sistemas dinâmicos

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