Muito se tem falado acerca dos números de praticantes de Badminton por esse mundo fora e têm-se dado como exemplos países onde a cultura desportiva é uma realidade deveras diferente. Quer nos países asiáticos, quer nos países do Norte da Europa, as percentagens da população de praticantes desportivos federados são muito diferentes dos nossos. São países que estimulam as crianças para a prática desportiva desde cedo, que se reflecte na aquisição de hábitos desportivos, ou de actividade física, ao longo da sua vida.
Em Portugal a realidade é muito diferente. Apenas 20% da população diz que faz algum tipo de actividade física e só 5% está filiada numa federação (maior parte desta população pratica o Futebol), o que são números perfeitamente ridículos para um pais que aspira a ter classificações de relevo em grandes competições internacionais (Jogos Olímpicos e Campeonatos do Mundo).
As razões socio-económicas podem ter influência neste fenómeno. Quando um trabalhador não tem dinheiro para pagar o empréstimo da sua casa ou os livros do filho, não tem dinheiro nem vontade de pagar para fazer actividade física. E o que temos vindo a assistir nos últimos tempos é a uma diminuição do poder de compra da classe média (que é a classe mais representativa do universo de praticantes desportivos) em benefício dos grandes empresários.
No entanto, penso que a questão é explicada pelos factores culturais. A cultura de um país é o conjunto de valores, ideais e história que fazem a identidade desse país e que é transmitida (ou deveria sê-lo) pela Escola. Ora, como até há pouco tempo, a maior parte da nossa população era analfabeta ou iletrada, estivemos durante muitas gerações confrontados com famílias de classe baixa, sem formação académica nem hábitos desportivos. A prática desportiva só era acedida às elites sociais. Esta situação só se veio a inverter após a revolução de 74 com a implementação da escolaridade obrigatória. Dai até aos dias de hoje a organização das instituições desportivas tem evoluído, mas as mentalidades demoram mais a evoluir.
De qualquer forma, estamos melhor do que o que estávamos e os grandes motores, da transformação que tem havido na nossa sociedade, têm sido, sem dúvidas, a Escola e o Desporto Escolar. A Escola evoluiu para a instituição base da educação das crianças e jovens (antes esta tarefa era mais da responsabilidade da família) e é nos seus espaços que se reúnem e socializam a maior parte das crianças do país. É o Desporto Escolar que tem dado oportunidades de prática desportiva aos alunos mais desfavorecidos e lançado para o desporto federado os talentos que, em alturas anteriores, se teriam perdido.
Quando se fala em desenvolvimento da prática desportiva e nomeadamente do desenvolvimento de uma modalidade como o Badminton, temos de olhar primeiramente para a Escola e o Desporto Escolar. No entanto, confrontado com os números, a realidade está longe de ser perfeita. Quando vamos ver a realidade escolar dos países que servem de referência à nossa comparação, vemos que têm uma organização muito diferente. Uma das grandes diferenças é o Programa Nacional.
O currículo nacional é extremamente fechado e inflexível, dando liberdades de aprendizagens em casos muito restritos. Por outro lado é demasiado extenso, pois quer incluir aprendizagens que os alunos poderiam ter extra escola. Entre ter 12 disciplinas por semana, mais os trabalhos de casa, mais o estudar para os testes e explicações, fica muito pouco tempo para os alunos fazerem qualquer coisa que não seja estudar. A carga horária dos nossos alunos é demasiado elevada para levarem uma actividade a sério. Também os professores são vítimas desta situação. A burocracia que tem vindo a tomar conta das escolas é suportada pelos professores, que ficam sem tempo e sem vontade de tomar iniciativa em núcleos de desporto escolar. Muitos dos professores tomam conta de núcleos de desporto escolar, sem formação do desporto em causa, apenas para terem redução de horário, que leva a que muitas escolas e professores não encarem o Desporto Escolar com profissionalismo. Nos países nórdicos, a carga horária é mais suave e os currículos escolares são adaptados às suas realidades, o que deixa, aos alunos, mais tempo para a prática desportiva e outras actividades extra-curriculares e os professores mais libertos para acarretarem com estas responsabilidades. Há outras questões, na própria organização do Desporto Escolar que devem ser discutidas, para melhorar a sua credibilidade. Penso que os sistemas competitivos devem ser uniformizados, de forma a promover a verdade desportiva, o período de competição deve ser mais alargado (há atletas que só competem 3 meses por ano) reestruturando as fases de apuramento e os alunos devem ter direito a prémios nos diversos torneios.
De qualquer forma e apesar de haver muito para melhorar, ainda há escolas e professores que se conseguem organizar de forma a proporcionar um Desporto Escolar de qualidade. E continua a ser no Desporto Escolar que a maior parte das crianças e jovens têm acesso ao desporto e deve ser encarado como a base para todo o desporto federado.
É no Desporto Escolar que as Federações, Associações e Clubes devem investir os seus recursos técnicos, humanos e materiais. Não basta a uma Federação dizer que apoia o Desporto Escolar e apoiar esporadicamente um ou outro núcleo escolar. Deve haver projectos de desenvolvimento de acordo com as carências que se fazem sentir em todo o território. Não basta aos clubes, para aumentarem os seus praticantes, fazerem umas demonstrações nas escolas e esperarem que os alunos apareçam. Devem acompanhar e apoiar os núcleos da sua zona para que o trabalho seja mais sustentado.
Relativamente ao Badminton, sempre defendi que o primeiro passo para melhorarmos o nosso nível internacional de forma coerente e consistente, é aumentar o número de praticantes e a competição entre eles. Desta forma, apoio a iniciativa da FPB por criar os Torneios de Divulgação numa perspectiva de articulação de Desporto Escolar com Desporto Federado. É uma boa medida para potenciar o aumento do número de praticantes, permitir que os atletas tenham competição adequada ao seu nível competitivo e tenham tempo para falhar e evoluir. Pela que vejo hoje na realidade da minha zona, teve um impacto muito positivo. Pelas conversas que tenho tido com treinadores e professores de outras zonas, parece-me que o impacto foi semelhante. Portanto, deverá ser este é o caminho a seguir e no qual se devem canalizar os esforços para construir uma base sólida e que no futuro não tenhamos apenas 1, mas 10 “Pedros Martins”.
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